A pressão pública sobre Alemanha e Itália para transferirem suas reservas de ouro armazenadas nos Estados Unidos ganhou força nas últimas semanas, em meio ao crescente clima de instabilidade no mundo, com guerra no Oriente Médio, e a críticas abertas do presidente americano, Donald Trump, ao Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). As informações são do Financial Times.
Os dois países detêm, respectivamente, a segunda e a terceira maiores reservas nacionais de ouro do mundo, com 3.352 e 2.452 toneladas, sendo que mais de um terço de seus estoques estão guardados no Federal Reserve de Nova York.
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A mobilização por mais controle físico sobre os ativos aumentou após declarações de Trump insinuando possíveis interferências no Fed. “Há fortes argumentos para trazer mais ouro para a Europa ou para a Alemanha em tempos turbulentos”, afirmou ao FT Fabio De Masi, ex-eurodeputado alemão.
Entidades como a Taxpayers Association of Europe enviaram cartas aos ministérios da Fazenda e aos bancos centrais de ambos os países, recomendando a mudança. “Estamos muito preocupados com a possibilidade de Trump interferir na independência do Federal Reserve”, disse Michael Jäger, presidente da associação, ao FT.
Movimentos similares ocorreram no passado: entre 2013 e 2017, a Alemanha transferiu 674 toneladas de ouro de Paris e Nova York para Frankfurt, em operação que custou €7 milhões. A França, ainda nos anos 1960, havia trazido de volta a maior parte de suas reservas.
O ouro também já passou pela pauta caótica de Trump. pouco depois de assumir o mandato, no começo do ano, ele começou a levantar suspeitas, sem provas, sobre a integridade das reservas de ouro dos EUA armazenadas no Depósito de Ouro de Fort Knox, afirmando que elas precisariam ser auditadas.
Na Alemanha, a proposta conta com apoio em diferentes espectros políticos. Peter Gauweiler, ex-parlamentar conservador da Baviera, afirmou que o Bundesbank “não deve abrir mão de nada” na proteção das reservas. Já Peter Boehringer, hoje deputado do partido de extrema-direita AfD, defende que o controle físico do ouro é essencial “em tempos de crise grave”.
A Itália também viu ressurgir o tema. Em artigo no jornal Il Fatto Quotidiano, o comentarista Enrico Grazzini alertou para os riscos de manter 43% das reservas italianas sob custódia nos EUA. No passado, o partido Fratelli d’Italia, da primeira-ministra Giorgia Meloni, chegou a prometer a repatriação. Desde que assumiu o governo, no entanto, Meloni evitou retomar o assunto, buscando manter relações estáveis com Washington.
O Bundesbank informou ao FT que avalia regularmente os locais de armazenamento, considerando segurança e liquidez. A instituição reiterou confiança no Fed de Nova York como parceiro confiável. Já o Banco da Itália e o governo italiano não comentaram.
Uma pesquisa recente com mais de 70 bancos centrais apontou tendência crescente em armazenar ouro domesticamente, refletindo temores sobre acesso a ativos em contextos de crise. Nesta segunda-feira (23), mesmo enquanto os mercados passavam por alívio, sobretudo o petróleo, após sinais de que a retaliação do Irã sobre os EUA foi mais branda que o esperado, o ouro registrava alta de 0,5%, a US$ 3.385 por onça.
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