Como o esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 15,00% ao ano, no maior nível da taxa básica de juros desde meados de 2006, nesta quarta-feira (5). Essa foi a terceira manutenção consecutiva.
A decisão do colegiado foi unânime.
Na avaliação de Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime, o comunicado veio com um “tom mais duro” do que a expectativa, eliminando as chances de um possível início de afrouxamento monetário ainda neste ano.
“O tom do Copom veio mais ‘duro’, ainda que ele reconheça que a atividade [econômica] desacelerou e as expectativas [para inflação] também. O comunicado também não retirou a possibilidade de subir os juros”, afirmou Kawauti durante o Giro do Mercado Especial de Copom nesta quarta-feira (5).
Embora um novo ciclo de aperto monetário não seja o cenário-base neste momento, a economista afirmou que a “porta aberta” para alta nos juros indica que o Copom “ainda não está confortável em baixar a Selic”.
“O comunicado fala explicitamente em manutenção dos juros nesse patamar [de 15% ao ano] por um período bastante prolongado. Isso indica que ele [o BC] está confortável com o atual nível e deve manter a Selic na reunião de dezembro certamente, provavelmente também na reunião de janeiro.”
Tom conservador = credibilidade
Para a economista-chefe da Lifetime, o Copom mais conservador é importante para a credibilidade do Banco Central, ainda em um cenário externo e doméstico incerto.
“Claro que ninguém gosta da economia com juros de 15%, é uma taxa muito alta, as empresas reclamam disso com razão, mas o custo do Banco Central perder credibilidade e o custo dessa inflação sair do controle é muito maior, como a gente já viu acontecer lá atrás”, afirmou Marcela Kawauti.
O cenário fiscal também segue como um “limitador” para o início de um afrouxamento monetário, na visão da economista.
“Se a gente tiver uma piora da questão fiscal, tem uma renovação do impulso à demanda, ou seja, a pressão de demanda sobre a inflação se exacerba. Além disso, a gente pode ter essa ajuda do dólar se dissipando ou, inclusive, o dólar atrapalhando, caso ele volte ao patamar de R$ 5,60. Então, a questão fiscal certamente é algo que o Banco Central leva em conta e, com certeza, serve como um limitador, infelizmente, à queda de juros”, explica.
“Toda vez que a gente tem os economistas discutindo por que o Brasil tem taxas de juros tão elevadas, o fiscal está ali, com certeza, colocando juros neutros lá em cima.”
Sem ajuda do Fed por ora
Na semana passada, o Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) — equivalente ao Comitê de Política Monetária (Copom) brasileiro — cortou os juros em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 3,75% a 4,00% ao ano, como o esperado pelo mercado.
Contudo, a queda nos juros dos Estados Unidos não deve garantir, ainda, um alívio na Selic por aqui. Kawauti lembra que o BC dos Estados Unidos está em “uma situação muito difícil” com a expectativa de algum impacto da política tarifária de Donald Trump — que ela, considera uma variável “nova bastante relevante”.
Além disso, a paralisação da máquina pública que interrompeu a divulgação de dados relevantes para a orientação dos juros adiante — o que aumentou a “neblina” sobre o horizonte, nas palavras da economista-chefe da Lifetime. “O Fed está dirigindo em uma estrada ‘esburacada’, sem saber bem o caminho, e a neblina aumentou a dificuldade de enxergar à frente”.
Para ela, “se os juros nos Estados Unidos caem mais devagar, isso acaba também entrando como limitador para avaliar o futuro [da Selic] e a curva de juros norte-americana entra como uma variável bastante relevante”.