O mercado já está “alinhado” com as decisões de política monetária da próxima quarta-feira (7). Aqui no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,50% ponto porcentual (p.p.), enquanto o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, não deve mexer nos juros do país.
Isso é o que Livio Ribeiro, Sócio da BRCG e Pesquisador Associado FGV IBRE, ponderou durante o Tag Summit 2025, evento promovido pela Tag Investimentos em São Paulo.
Ribeiro afirma que espera “50 amanhã” [aumento de 0,50 p.p. da taxa Selic] e “25 em junho”, o que colocaria uma “Selic terminal de 15%” ao ano.
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Para o Brasil, há uma “mudança de vento”, onde o choque externo é desinflacionário (isto é, há uma redução do ritmo de crescimento da inflação). “Eu acho que existe o cenário desinflacionário, mas eu tenho dúvida do porque seria desinflacionário”, diz.
Ele afirma que, dado um cenário de recessão global, é preciso tomar outro tipo de precauções.
Agora, em um cenário de manutenção da atividade econômica e, portanto, mais produtos chineses disponíveis — que iriam para os Estados Unidos — e que não chegaram ao destino, essa produção deve ser “escoada” para o Brasil, o que tende a abaixar os preços. No entanto, Ribeiro se revela um pouco cético quanto a essa dinâmica.
“Os nossos lobbys industriais são muito organizados. Então, eu tenho dificuldade de ver esse negócio entrando no Brasil na velocidade que seria necessário”, pondera.
Além disso, o problema principal é a alta na inflação de serviços, visto que é uma composição inflacionária “muito esquisita”, segundo o analista — e que é muito difícil de arrefecer no curto prazo.
“Então, não é a inflação de 2026 que é o problema, mas sim a inflação de 2027, que começa a divergir”, aponta. “Eu tenho Selic parada para tentar brigar por uma inflação que vai indo na direção dos 4,5%. Não é dos 3%, é dos 4,5%”, finaliza.
No caso do Fed, o especialista aponta que há o consenso de que não ocorra qualquer movimento amanhã. Ribeiro pontua que a discussão deve começar a mudar a partir de agora, pois o cenário que se desenha é de uma recessão.
Isso porque dois diretores, Beth Hammack e Christopher Waller, já começam a ter um tom de que, “se tivermos um choque que a gente sabe que é inflacionário, mas que leve a um movimento mais intenso em taxa de desemprego, pode nos levar também para um corte de juros”, destaca.
Além do Copom: o que esperar do dólar e da inflação em 2025?
As economias emergentes, de modo geral e não somente no Brasil, estão em um processo considerado “muito confuso”, segundo Livio Ribeiro. Para ele, é difícil “ser reserva de valor se você perde valor“.
“O fato é que você tem um cenário hoje onde existe, pelo menos implicitamente, uma visão de que se deve enfraquecer o dólar no Brasil, porque isso seria, na visão da administração americana, a raiz do grande desequilíbrio que eles veem com a conta-corrente nos Estados Unidos”, aponta.
Para o pesquisador, ao mesmo tempo que os agenter norte-americanos querem enfraquecer a moeda, eles também querem manter a posição do dólar como reserva de valor, o que consequentemente se torna algo “um pouco difícil de casar”, diz Ribeiro.
“E eu não tenho a menor ideia do que vai acontecer com o Brasil nesse processo. Na verdade, eu acho que eles também não têm muita ideia”, diz. “Mas, é nessa bagunça [dos mercados emergentes atualmente] que a gente vai vencer tudo”, completa.
Sobre a inflação total, Samuel Pessoa, Pesquisador Associado FGV IBRE, “não sabe direito” o que vai acontecer, devido ao persistente nível de incerteza da guerra tarifária — que é um choque para o Brasil desinflacionário. No entanto, “pode ser que até tenha surpresas positivas na inflação daqui para o final do ano”.
“A minha avaliação é que a gente chega no final do ano que vem com serviços altos. Significa que tem inércia inflacionáriae com o setor privado, que vai estar muito cansado”, destaca. “O que ocorre é que o governo vai injetando demanda na área social para manter o consumo, tanto com novos mecanismos de crédito, como esse crédito consignado, que é uma medida menos correta e inoportuna”, completa.
Contudo, esse contexto deve gerar um impulso de demanda de 0,5% do PIB esse ano — e outros 0,5% ano que vem.
Na visão de Silvia Matos, Coordenadora do boletim macro FGV IBRE, a longo prazo, a visão é menos pessimista. Isso, porque, devido a possíveis questões políticas, o país possa não conseguir endereçar a “arrumação do orçamento de uma maneira constitucional”.
“Eu acho que esse é um aspecto que a inflação, para mim, no fim do dia, deva ser a grande restrição para o governo, enquanto a sociedade valorizar uma inflação baixa”, aponta. “Mesmo com dúvidas, não sabendo direito o que causa a inflação, embora eu ache que é a grande questão para 2026, sendo muito sincera, acho que dificilmente a gente vai ter uma inflação baixa o ano que vem”, completa.