SÃO PAULO (Reuters) – Dados econômicos sugerem que a transmissão da política de juros do Banco Central pode não funcionar com plena fluidez no Brasil, o que demanda ações para que seja possível obter “os mesmos efeitos com doses menores do remédio”, disse nesta quarta-feira o diretor de Política Monetária da autarquia, Nilton David.
Em evento promovido pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), David argumentou que a economia brasileira apresenta dinamismo mesmo com juros básicos que tenderiam a ser contracionistas em outros países, citando também níveis baixos de desemprego.
“Normalizar a funcionalidade da política monetária do país, para que seja possível obter os mesmos efeitos com doses menores do remédio, deve ser um objetivo estrutural para nossa economia”, disse, defendendo entre outros pontos uma reavaliação de subsídios a empresas.
“Entre os desafios, há um que parece perpassar toda a política econômica do país: a necessidade de revisitar o alcance de subsídios cruzados regressivos, que proporcionam exceções favoráveis a alguns, mas que impõem uma carga maior sobre os demais, incluindo muitos que têm menos condições de pagar”, avaliou.
David defendeu também a criação de alternativas para o financiamento do setor imobiliário e avaliou que essas medidas devem ser realizadas em conjunto com o mercado de capitais.
“Em relação ao crédito imobiliário, é importante desenvolver alternativas de funding em conjunto com o mercado, frente à redução estrutural na captação da caderneta de poupança, visando garantir não apenas o volume de recursos adequados, mas também que imóveis possam ser usados como colaterais para linhas de crédito mais seguras e de menor custo, a exemplo do que ocorre nas principais economias do mundo”, defendeu.
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, afirmou este mês que espera apresentar em breve em breve um novo modelo para financiamentos habitacionais no Brasil baseado em captações de mercado.
Leia mais: Galípolo: BC estuda modelo de captação no lugar da caderneta para financiar habitação
Em sua fala, David também destacou a necessidade dos bancos centrais no geral ampliarem sua comunicação sobre política monetária para um público mais amplo, para além dos agentes do mercado.
“Isso faz com que o Banco Central precise recorrer a novas linguagens e canais de comunicação”, disse. “Além de legítimo, é bem-vindo o crescimento do debate na sociedade acerca da atuação da autoridade monetária. Constitui parte essencial do nosso trabalho esclarecer para a população o que faz o Banco Central e por que o faz.”
O diretor de Política Monetária fez ainda a avaliação de que o Brasil tem “sistema financeiro sólido, eficaz e moderno”.
“Ainda assim, sabemos que há desafios significativos. O constante aperfeiçoamento do sistema financeiro, pela sua influência direta na competitividade e eficiência da economia, é questão importante no mundo moderno”, afirmou em seu discurso.
(Por Eduardo Simões e Bernardo Caram)
The post Diretor do BC defende ações para aumentar fluidez da política de juros no Brasil appeared first on InfoMoney.