Até o momento, os resultados do varejo brasileiro calculados pelo Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo), da FIA, para o trimestre de junho a agosto de 2025, revelam um cenário de desempenho heterogêneo entre os diferentes segmentos, com variações que oscilam desde quedas significativas de -7,44% até crescimentos robustos de +5,71%.
O varejo restrito, que engloba bens duráveis e semi-duráveis, como alimentos, roupas e produtos de higiene pessoal, registra leve retração de -0,42%, enquanto o varejo ampliado, que engloba, além destes itens, bens duráveis, como veículos e materiais de construção, apresenta crescimento modesto de 1,69%, mostrando como diferentes categorias de consumo respondem de forma distinta às mesmas condições macroeconômicas vigentes.
Para Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Ibevar e professor da FIA Business School, o desempenho superior do varejo ampliado em relação ao restrito sugere que investimentos em bens duráveis ainda mantêm atratividade, “possivelmente impulsionados por condições de financiamento favoráveis ou necessidade de renovação”.
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Destaques positivos
O setor de Tecidos, vestuário e calçados lidera o crescimento com expressivos 5,71%, seguido de perto por Veículos, motos, partes e peças com 4,72%, indicando uma possível recuperação da confiança do consumidor em bens duráveis e semi-duráveis.
O crescimento de 3,47% em Outros artigos de uso pessoal e doméstico complementa este cenário positivo, sugerindo que itens relacionados ao bem-estar e personalização do lar ganham importância no orçamento familiar.
Segundo o Ibevar, as leituras positivas podem refletir tanto uma melhoria nas expectativas econômicas quanto um movimento de reposição de estoques domésticos represados em períodos anteriores.
Setores sob pressão
Em contraste, o segmento de Livros, jornais, revistas e papelaria enfrenta a maior retração com -7,44%, continuando uma tendência de digitalização e mudança de hábitos de consumo que vem transformando este mercado há anos.
O setor de Móveis e eletrodomésticos também apresenta desempenho negativo de -1,72%, sugerindo cautela dos consumidores em relação a compras de maior valor agregado.
A estagnação em segmentos como Combustíveis e lubrificantes e Equipamentos de informática (ambos com 0,00%) indica possível saturação ou substituição por alternativas tecnológicas, especialmente no caso de equipamentos eletrônicos.
Expectativa
Segundo Angelo, será crucial monitorar se os segmentos em crescimento conseguirão sustentar este ritmo nos próximos meses. “As perspectivas associadas às taxas de juros colocam sérias dúvidas sobre essa possibilidade”, complementa.
As projeções dos analistas para a inflação em 2025 foram revisadas para baixo pela terceira semana consecutiva, conforme divulgado no Relatório Focus do Banco Central nesta segunda-feira (16). A estimativa caiu de 5,44% para 5,25%, patamar bastante superior à meta de 3,00%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual.
O remédio para a inflação fora da meta tem sido a amarga taxa básica de juros, a Selic, em 14,75% desde maio, o maior nível da série desde agosto de 2006. E a expectativa é que ela permaneça neste patamar até o fim do ano, com a promessa de arrefecer a atividade econômica e a alta nos preços.
A rigor, especialistas apontam que alterações nas taxas de juros levam cerca de dois trimestres, ou seis meses, para serem sentidas pela economia. Contudo, o ciclo de alta da Selic se arrasta desde setembro de 2024. De lá para cá ela subiu quatro pontos percentuais, mas a inflação acumulada em 12 meses continuou bastante acima da meta.
E a expectativa é de atividade econômica ainda aquecida em 2025, com o Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) em 2,20% – contra 2,18% na semana passada.
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