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Exportações para os EUA podem cair 75% com tarifas de Trump, diz Lucas Ferraz, da FGV

O presidente Donald Trump anunciou no fim da tarde desta quarta-feira (9) uma tarifa de 50% para produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos. “O caldo azedou”, e é possível que o principal motivo tenha sido a declaração de líderes do Brics no último final de semana. Agora, o impacto pode ser uma queda de 75% nas exportações brasileiras à principal economia do mundo.

A avaliação é de Lucas Ferraz, coordenador do Centro de Negócios Globais da FGV e ex-secretário do Comércio Exterior do Brasil, em entrevista ao InfoMoney.

Nos primeiros parágrafos de uma carta que eleva o teor político dos embates comerciais entre Brasil e Estados Unidos, Trump diz que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro “não deveria acontecer”. O tom é similar ao de uma publicação feita na última segunda-feira, onde o mandatário americano critica o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado e que corre no STF.

Apesar da abertura, no entanto, Ferraz acredita que o real motivo para Trump ter imposto a maior tarifa entre todas as anunciadas nesta semana ao Brasil não é diretamente mencionado na carta. “A última declaração conjunta do Brics, no domingo (7), contaminou uma possível negociação em um sentido muito negativo”, diz.

Ele avalia que, apesar das menções a eleições, liberdade de expressão e barreiras tarifárias e não tarifárias que Trump faz na carta, o Brasil estava fora do radar até esta semana. “Nesse lugar estavam grandes negociações, como com União Europeia, Índia e, claro, a China”, diz.

Na declaração conjunta dos líderes publicada durante a cúpula, os integrantes do Brics enfatizaram ações do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês, conhecido como Banco do Brics) de expandir o financiamento em moeda local entre os países membros, em contraposição ao dólar. A carta também condena ataques militares ao Irã, alvo de Estados Unidos e Israel no último mês.

Durante o fim de semana, Trump já havia afirmado que países alinhados “às políticas antiamericanas do Brics” pagariam uma tarifa adicional de 10%. “Não haverá exceções a essa política”, afirmou.

No caso do Brasil, a tarifa de 50% se soma aos 2,5%, em média, praticados antes das decisões do presidente dos EUA. Ferraz estima que um aumento horizontal tarifário dessa proporção poderia reduzir as exportações brasileiras aos Estados Unidos em 75%.

“Em nível agregado não é uma catástrofe, haja vista que o Brasil é um país relativamente fechado, então a participação das exportações no PIB nacional tende a ser pequena”, conta o ex-secretário. “Mas quando você leva em consideração que os Estados Unidos são o principal destino das exportações industriais brasileiras, é evidente que o impacto setorial na indústria de transformação do Brasil é não trivial.”

Para Ferraz, que esteve à frente da secretaria de comércio exterior de 2019 a 2022, parte do período no qual Jair Bolsonaro e Donald Trump ocuparam a presidências paralelamente, ambos os países sempre foram negociadores “duros”, mesmo em períodos de alinhamento. Agora, no entanto, a relação diplomática “saiu do padrão da normalidade”.

Leia a entrevista editada:

InfoMoney: Donald Trump menciona a reciprocidade tarifária apenas na metade da carta enviada ao presidente Lula. O começo é mais carregado politicamente. Era de se esperar? 

Lucas Ferraz: A carta toca no tema das eleições, liberdade de expressão na internet, as altas barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Mas até então não era algo que Trump parecia querer levar para a mesa de negociação. Na verdade, o Brasil estava fora das prioridades americanas. Nesse lugar estavam grandes negociações, como com União Europeia, Índia e, claro, a China.

Tudo indicava que para o Brasil ficaria aquela tarifa adicional de 10%, o valor base estabelecido em 2 de abril. Seria um resultado, digamos, menos pior, na comparação aos percentuais aplicados em outros países. Vale lembrar, nesta semana ele aplicou tarifas de 25% contra o Japão e a Coreia do Sul. A África do Sul também recebeu uma carta, 30%. Malásia e Cazaquistão, 25%.

Agora, não está mencionado na carta, mas a mim parece muito razoável que a última declaração conjunta do Brics, no domingo, contaminou uma possível negociação em um sentido muito negativo. O Brasil assumiu protagonismo na reunião e a declaração, inclusive, toca em temas polêmicos de defesa, como o bombardeio ao Irã. Não fala sobre o Irã bombardeando outros países, como Israel, ou mesmo financiando o terrorismo do Hamas, Hezbollah, a questão dos Houtis que continuam bombardeando navios no Mar Vermelho.

Foi fora de linha com as declarações recentes do Brics, ou ao menos daquelas antes da ampliação do bloco para incluir autocracias como Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes. Era natural que o Brasil ficaria em uma saia justa com essa ampliação. O Brasil não se preocupou com essa questão na declaração, e nem com críticas às tarifas do Trump, discussões sobre transações entre membros dos Brics em moeda local.

Tudo isso para dizer que até então o Brasil passava fora do radar, mas acredito que esses elementos tiveram grande influência justamente na semana em que Trump decidia quanto cobraria de cada país em suas cartas. Sabemos que ele tem um temperamento forte.

IM: Na carta, Trump diz que “talvez” considere ajustar a carta, desde que o Brasil reduza a carga de impostos dos produtos americanos que vêm para o País. Para o que esse tom sinaliza?

LF: Essa foi a mesma frase na carta que ele mandou para o Japão e para a Coréia do Sul. É exatamente essa linguagem para outros países. Para o Brasil, especificamente, é o começo da carta. Quando ele fala de eleições livres, falta de democracia, liberdade de expressão nas redes sociais. Ou seja, se vocês abrirem a economia de vocês, a gente vai considerar eventualmente mitigar aqui algumas tarifas.

IM: E o caminho para o Brasil será mesmo abaixar a carga de impostos de importação de alguma maneira?

LF: Certamente. Qualquer tipo de negociação envolveria produtos de interesse do governo americano. Aí é que a questão do etanol ganha novamente um protagonismo. O Brasil, inclusive, já havia sinalizado que estaria disposto a negociar sobre esse tema, então também não é claro se movimentos pontuais, setoriais, fariam os Estados Unidos mudar de ideia.

Mas é uma tentativa, claro. Evidentemente tem que começar ofertando aqueles que são pedidos históricos americanos que, além do maior acesso ao mercado de etanol são as barreiras não tarifárias: como Trump mesmo já questionou, a propriedade intelectual, a questão das Big Techs, a regulamentação das redes. 

Só que é uma negociação muito difícil. Já era pela falta de alinhamento ideológico dos governos, fica mais difícil ainda com essa elevação do tom que vimos na carta.

IM: Trump faz uma menção direta às investigações contra o Bolsonaro em uma carta enviada ao Poder Executivo, enquanto os processos correm no Judiciário. Fica mais difícil caminhar a partir daí?

Certamente o Brasil não tem como negociar isso. O Brasil não tem como negociar algo que não está fora da alçada do Poder Executivo. O que o Brasil poderia tentar fazer é a negociação final de bens, que é o recado que ele deixa: se você abrir a sua economia, a gente pode considerar rever as tarifas. A moeda de troca aí, eu acho que ele utiliza essa questão política para mostrar insatisfação, mas ele deixa claro que no final a moeda de troca é a barganha de bens, de serviços. É o comércio.

IM: Pela sua experiência como secretário de Comércio Exterior, mesmo que em um momento diferente no alinhamento entre os governos dos EUA e do Brasil, que tipo de esforço é necessário para reverter uma situação como essa?

LF: As negociações com os Estados Unidos sempre foram duras. Com o Brasil, idem. Mas é evidente que naquela época, como havia um canal diplomático mais forte, as coisas se resolviam no diálogo, no entendimento.

Essa tensão de hoje na relação, demonstrações de insatisfação feitas pelo próprio presidente Trump sobre a política comercial brasileira, e agora envolvendo até a política em si, gera um clima que não havia. Era mais amistoso, mas de países defendendo seus interesses, como sempre aconteceu. 

Chama a atenção que a relação diplomática saiu do padrão de normalidade – e preocupa muito ser com a maior economia do mundo. E aí não cabe certo ou errado. Se eu concordo ou não com o caminho seguido pelos EUA. O Brasil precisa se perguntar qual é o interesse nacional nesse momento, e me parece não ser algo bem respondido. 

Não está claro pelos movimentos do Brasil qual é o interesse nacional. Declarações feitas pelo próprio Lula, muitas vezes insistindo na diminuição do papel do dólar, quando sabemos que há pouco a ganhar com isso. Não é a prioridade nesse momento, mas é algo que o Brasil insiste, esse governo sobretudo.

Para mim, o que aconteceu é um resultado direto da declaração de domingo nos Brics. Foi ali onde o caldo realmente azedou.

IM: Considerando a condução da gestão Trump na questão do comércio internacional pelos últimos meses, dá para imaginar que o Brasil consiga reduzir essa tarifa de 50%?

LF: Para todas as tarifas que ele está criando, é necessário somar às tarifas que já existiam antes de sua gestão – para o Brasil, era uma média de 2,5%. Para mexer nelas, ele precisa de autorização do Congresso, seja para aumentar ou diminuir. Ele nem mesmo poderia aumentá-las com decreto, então o que vem fazendo é alegar segurança nacional. Aí entra uma questão jurídica que já foi inclusive questionada na Justiça americana.

Mas no fim, todas as tarifas que ele está criando precisam ser somadas àquelas preexistentes. Ele não fala isso, mas está subentendido. São 52,5%, mas ele não pode alterar a parte dos 2,5%.

Eu tenho chamado esses acordos de “acordos Black Friday”. Trump aumenta o preço somente para reduzir na sequência e dizer que fez uma boa negociação. Veja: ele anunciou 50% para o Brasil. Em um cenário hipotético, pode negociar a redução da tarifa de importação do etanol americano de 18% para 0. Então ele abaixa os 50% de tarifas sobre produtos brasileiros para 20%. Alguém pode pensar: “O Brasil devia ficar feliz com isso”. Não. A tarifa não era de 25%, era de 2,5%. 

IM: Mas agora, a partir dessa base de 52,2%, dá para pensar em algum patamar razoável para os quais o Brasil consiga caminhar diante de um esforço diplomático? 

LF: O resultado dessas negociações é muito imprevisível. Tem que haver canal diplomático, boa relação e pragmatismo na relação. Isso se e é que os Estados Unidos perderão tempo com o Brasil. Não vamos esquecer, eles têm países muito mais importantes para negociar até o prazo estabelecido de 1º de agosto – Japão, Coreia do Sul, por exemplo. 

Se o Brasil abrir o canal diplomático, é difícil prever o que os Estados Unidos podem oferecer. Uma coisa é fato: é quase impossível eles adotarem uma tarifa abaixo de 10%. Haja vista o acordo com o Reino Unido. Trump deu algumas concessões, mas manteve as tarifas em 10%. O Brasil já estava nesse patamar.

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