A Fitch não enxerga o Brasil recuperando o grau de investimento no curto prazo. Ao menos foi o que disse Shelly Shetty, head de ratings da casa para as Américas e para Ásia, em evento da casa nesta terça-feira (9).
“Não antecipamos o Brasil voltando a ganhar um grau de investimento no curto-prazo. A credibilidade fiscal está, novamente, sendo questionada ano após ano pelos participantes do mercado”, falou Shetty.
Entre os principais motivos para a visão, além da questão fiscal, está uma rigidez orçamentária e um baixo crescimento estrutural do produto interno bruto (PIB).
A casa também enxerga fatores políticos e institucionais pressionando um acerto das contas públicas, com questões sociais, por exemplo, freando as tentativas de ajustes de gastos. A atual interpretação é de que, hoje, parte considerável da classe política enxerga um ajuste como desnecessário.
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O país perdeu o grau de investimento em 2015, em meio à crise fiscal do governo Dilma Rousseff. E apesar de os países, em média, demorarem cerca de seis anos para recuperarem a classificação, o Brasil, para a casa, ainda está longe disso.
“Os gastos públicos são muito elevados no caso do Brasil e eles vão continuar crescendo nos próximos anos, no nosso cenário-base. E isso tira pontos do perfil de crédito”, disse a analista.
Shelly Shetty ainda lembrou que quando o Brasil ganho o grau de investimento, em 2008, as perspectivas de crescimento eram de cerca de 4% ao ano. Hoje, a visão para o PIB brasileiro é de um avanço de 2%.
A mesma coisa acontece para o déficit público. Em 2008, ela lembra, o déficit girava em algo próximo a 3%, com a relação dívida/PIB abaixo dos 60% — números menores do que o crescimento de 8% ao ano de hoje e com a dívida próxima de 80% do PIB.
Ela ainda alertou que a dívida nominal do Brasil cresce acima daquilo visto nos pares BB, atual rating do país, que é de cerca de 3%, em grande parte por conta dos juros elevados.
Embora o déficit primário brasileiro não seja tão distinto de outros emergentes, para a Fitch, o peso dos juros amplia de forma significativa o desequilíbrio fiscal e reforça a visão de um problema estrutural. E o risco pode aumentar no caso de a economia desacelerar muito em meio à tentativa de diminuir os índices de inflação.
Há ainda, do lado dos riscos, a visão de que a aproximação de uma eleição pode levar a um afrouxamento das regras fiscais e que o governo atual deve enfrentar dificuldades para aprovar medidas arrecadatórias no Congresso.
Do lado positivo, Shelly Shetty mencionou que a economia brasileira é diversificada e com pouca exposição aos Estados Unidos – o que diminui o impacto das tarifas. Além disso, a posição das contas externas e das reservas internacionais, bem como o sistema monetário com credibilidade e as recentes reformas, podem auxiliar na manutenção do atual rating.
“Se virmos positivo, políticas que aumentem nossa confiança de que conseguiremos enxergar estabilização da dívida pública no médio prazo no Brasil. Isso seria positivo para o rating”, falou Shetty. “Se começarmos a ver reformas que realmente melhorem a dinâmica de investimentos e crescimento no Brasil, isso também será positivo para o rating”.