O IPCA, o índice oficial de inflação do Brasil, veio em maio abaixo das estimativas e manteve a tendência de desaceleração observada nos meses anteriores. Mas se a fotografia foi boa, o filme ainda preocupa os economistas, que destacam o patamar alto dos preços dos serviços, como mostram os núcleos do indicador.
Com isso, as projeções para a decisão do Copom na semana que vem são majoritariamente de manutenção da taxa, com um tom conservador no comunicado. Alguns especialistas ponderam que ainda existe uma possibilidade de alta residual da Selic, dos 14,75% atuais para 15% anuais.
Conforme divulgado pelo IBGE na manhã de hoje, o IPCA de maio subiu 0,26% na comparação mensal (ante um consenso de 0,32% do mercado) e a inflação anualizada recuou de 5,53% em abril para 5,32% em maio.
IPCA desacelera e sobe em 0,26% em maio, dado abaixo do esperado
De acordo com a mediana das estimativas de 19 economistas consultados entre 4 e 9 de junho consultadas pela Reuters, a projeção era de uma taxa mensal de 0,33% em maio
Segundo análise da XP, contribuiu para a surpresa uma variação negativa de preços da gasolina e dos bens duráveis. “A inflação tem surpreendido negativamente nos últimos meses, na esteira de componentes externos – principalmente câmbio”, diz o texto.
Por outro lado, foi destacado que a inflação de serviços continua acelerando, mesmo tendo registrado uma moderação no mês passado. “Em 12 meses, os serviços básicos atingiram 6,75%, a maior marca desde maio de 2023. Os serviços principais têm moderado na esteira de leituras mais suaves em aluguéis e condomínios. Olhando para o futuro, projetamos que esse indicador avance 7,1% em 2025, na esteira de um mercado de trabalho apertado e altas expectativas de inflação”, disse a XP.
Para a XP, a leitura de hoje é consistente uma visão de que o Copom manterá a taxa Selic em 14,75% na próxima semana.
Para André Valério, economista sênior do Inter, o resultado de maio sugere um arrefecimento maior que o esperado da inflação, em linha com o indicado pelo IPCA-15.
“A inflação de alimentos deve continuar perdendo pressão devido à sazonalidade, enquanto ainda se vê os preços das commodities perdendo força no mercado internacional, o que pode contribuir para novos cortes no preço da gasolina pela Petrobrás”, avaliou, acrescentando que o aperto monetário deve continuar arrefecendo a atividade, retirando pressão sobre a inflação de demanda.
“O resultado de hoje deve consolidar a expectativa de fim de ciclo de alta da Selic, apesar de ainda vermos uma alta residual de 25 pontos base como sendo provável, tendo em vista a declaração de membros do Copom nas últimas semanas”, previu.
Fim do ciclo?
Embora tenha comentado que “uma andorinha só não faz verão”, Luis Otávio Leal, sócio e economista-chefe da G5 Partners, disse em sua análise que o IPCA de maio dá esperança de que talvez o pior do processo inflacionário tenha ficado para trás.
“Não que veremos daqui para frente, uma desaceleração linear dos acumulados em 12 meses em todas as métricas, mas devemos observar oscilações com viés de baixa, de modo que o IPCA feche 2025 em 5,30%. Com isso, temos reforçada a nossa percepção de que o Copom não vai elevar os juros na sua próxima reunião, com a Selic sendo mantida em 14,75% a.a. até pelo menos o final de 2025, uma vez que, se não parece mais necessário elevar os juros tampouco há espaço para quedas no curto prazo.”
Para o Itaú, apesar da surpresa na quebra do núcleo, com os serviços subjacentes pressionando acima do esperado e os industriais subjacentes abaixo do esperado, a avaliação qualitativa dos dados foi positiva. “O núcleo médio ficou em linha com nossa projeção e, pela primeira vez este ano, aproximou-se da faixa consistente com a meta ajustada para sazonalidade.”
Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, também atribuiu a surpresa positiva em maio principalmente aos bens industriais, que surpreenderam de forma generalizada. “Dentro desse grupo, o setor de vestuário teve um impacto notável.”
Mas ela também alertou para o segmento de serviços – e suas métricas subjacentes – que veio acima do esperado, embora num patamar menos desfavorável do que o observado no IPCA-15.
“O resultado geral do IPCA de maio está em linha com nossa visão de melhora relativa da inflação corrente: continua incompatível com a trajetória de metas, mas melhora em relação ao panorama muito ruim visto nos primeiros meses do ano”.
Na opinião de Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital, o número que traz alívio para o Banco Central e abre espaço para a discussão sobre a manutenção da taxa de juros na próxima reunião do Copom.
Pressões inflacionárias
Já o Goldman Sachs vê um cenário de intensas pressões inflacionárias, expectativas de inflação de curto e médio prazo altamente desancoradas, hiato do produto positivo, mercado de trabalho apertado e medidas recorrentes de estímulo fiscal e de crédito que “exigem uma calibração conservadora da política monetária”.
Para Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, do ponto de vista do qualitativo, os dados vieram melhor do que o esperado, mostrando uma melhora na margem. “As variações mensais de bens industriais, serviços, serviços subjacentes, serviços intensivos em mão de obra e a média dos núcleos — itens acompanhados de perto pelo Banco Central — apresentaram desaceleração entre abril e maio. O índice de difusão, que mede o espalhamento da inflação entre os diferentes itens da cesta, também arrefeceu no período”, comentou.
“Mantemos a expectativa de alta de 0,25 p.p. na próxima reunião do Copom. Caso os próximos dados mostrem um comportamento mais benigno, especialmente em relação à atividade econômica e ao mercado de trabalho, é possível que o ciclo de alta de juros tenha chegado ao fim”, ponderou.
Já o economista da CM Capital, Matheus Pizzani, afirmou que, do ponto de vista da política monetária, a composição do IPCA de maio se mostrou significativamente positiva, com os preços administrados (+0,7%) respondendo pela maior parte da variação do indicador, enquanto os preços livres (+0,11%), além de terem representado parcela diminuta da variação total, ainda consolidaram a trajetória de desaceleração que já perdura por alguns meses.
Ele concorda que o ponto que demanda maior nível de cautela e atenção do BC diz respeito aos serviços. “O grupo de serviços tende de fato a se mostrar bem mais resiliente do que seus pares, situação agravada pela conjuntura marcada por mercado de trabalho apertado, crescimento da renda média habitual das famílias (…), e uma mudança gradual, porém relevante, na cesta de consumo das famílias.”
Esta mudança, segundo sua análise, torna mais desafiadora a tarefa da política monetária, uma vez que esta nova categoria de serviços não depende tanto de fatores mais diretamente afetados pela política de juros, como o crédito, e sim do nível de renda disponível dos agentes, tornando a suavização do ciclo econômico condição de extrema necessidade para a pavimentação de um caminho mais sólido em termos de desinflação.
“A CM Capital projeta que o atual ciclo de aperto monetário já foi encerrado e não trabalha com reajustes adicionais seja para a reunião da semana que vem ou mesmo para as posteriores”, afirmou. Na sua opinião, a materialização de uma trajetória de fato descendente das projeções de médio prazo do IPCA devem abrir caminho para o Banco Central iniciar seu ciclo de distensão ainda no final deste ano, promovendo cortes na Selic em suas últimas reuniões de 2025.
The post IPCA surpreende para baixo, mas serviços resistem e devem manter BC conservador appeared first on InfoMoney.