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No final, EUA e China devem chegar a tarifas entre 30% a 34%, avalia Canuto, ex-FMI

O início da negociação entre Estados Unidos e China para definir novas alíquotas de importação no comércio entre os dois países deverá terminar com a definição de impostos em torno de 30% a 34%, avalia o ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) Otaviano Canuto.

Os dois países anunciaram uma trégua de 90 dias na cobrança dos impostos que, em uma escalada sem precedentes, chegou a ser de 145% dos EUA contra a China, e de 125% da China contra os EUA. Durante a pausa, os países aceitaram derrubar os números. EUA cobrará até 30% para produtos chineses (10% no geral e 20% para produtos relacionados ao fentanil) e a China cobrará 10% dos produtos americanos que entrarem em seu território.

Direto de Washington, Canuto deu entrevista ao InfoMoney para analisar o que deverá ocorrer na mesa de negociações. Entre um compromisso e outro – o economista era esperado para uma entrevista em uma TV chinesa – Canuto falou que esse tipo de negociação demora mais do que 90 dias para chegar a um desfecho.

No entanto, ele acredita que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não deverá escalar a tensão para não reviver os momentos de turbulência econômica com queda da Bolsa, liquidação de títulos americanos, desvalorização do dólar e fuga de capital.

“A questão é o que vai acontecer após esses 90 dias. Porque, em geral, a maioria dos acordos comerciais leva muito mais tempo, e os Estados Unidos já estão tentando fechar acordos com outras 16 economias”, afirmou.

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Apesar das dificuldades, Canuto diz que EUA e China têm interesse em chegar rapidamente a um denominador comum. “Creio que eles devem chegar em um acordo, até porque do jeito que estava, com 145% sobre a China e 125% sobre os EUA, ia significar um colapso no comércio entre as duas economias, um descolamento completo. Isso, evidentemente, ia levar a impactos poderosamente negativos nos dois lados”, afirma.

No entanto, o fim do acordo não levará os países ao mesmo patamar de antes da escalada de tensões. Para Canuto, as duas potências econômicas deverão chegar ao fim das negociações com tarifas mais altas do que aquelas praticadas anteriormente, mas ainda assim bem menores do que o teto que atingiram na onda de retaliações.

“Não haverá um retorno ao que as coisas eram antes do Trump. Ao fim, antevejo uma tarifa em torno de 30 a 34%, que é bem mais alta do que no ano passado”, diz o ex-FMI.

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Leia a entrevista completa abaixo:

InfoMoney: Qual a sua leitura sobre o anúncio de redução de tarifas entre EUA e China? É um avanço ou uma cortina de fumaça?

Otaviano Canuto: Não, certamente não é uma cortina de fumaça, é um começo de uma negociação. A questão é o que vai acontecer após esses 90 dias. Porque, em geral, a maioria dos acordos comerciais leva muito mais tempo e, ao mesmo tempo, os Estados Unidos já estão tentando fechar acordos com outras 16 economias.

Creio que eles devem chegar em um acordo, até porque do jeito que estava, com 145% [de tarifas] sobre a China e 125% sobre os EUA, ia significar um colapso no comércio entre as duas economias, um descolamento completo. Isso, evidentemente, ia levar a impactos poderosamente negativos nos dois lados.

IM: São duas superpotências negociando tarifas, e nenhuma delas vai ceder. Qual é a tendência para essa negociação?

OC: A tendência é que cheguem a um acordo, que vai ser alguma coisa intermediária. [Mas, antes] É preciso ter clareza de que provavelmente as tarifas americanas sobre a China, ao final desse acordo, serão mais altas do que aquelas que estavam vigorando antes.

É uma espécie de jogo de poker, ou jogo de truco. Cada lado vai tentar difundir a ideia de que foi o outro lado que piscou. [Mas isso] Na verdade, não importa. O que importa é a concretude do resultado do acordo.

Não haverá um retorno ao que as coisas eram antes do Trump. Ao fim, antevejo uma tarifa em torno de 30% a 34%, que é bem mais alta do que no ano passado.

IM: Deve haver contrapartidas?

OC: Provavelmente os americanos vão exigir promessas de compras pelo lado chinês – inclusive que nos afetam – a promessa de compra de produtos agrícolas, como teve na primeira fase do acordo que foi oficializado no final do primeiro governo do Trump, mas foi interrompido pela pandemia e, depois, o Trump não se reelegeu. Tinha lá uma cláusula de voltar a comprar produtos agrícolas norte-americanos, o que foi um bônus para as nossas exportações agrícolas.

IM: Os dados da economia americana ainda não refletem os impactos das medidas tarifárias, mas os mercados sinalizaram com a liquidação dos títulos americanos e a desvalorização do dólar frente a outras moedas. Foi este cenário que levou Trump a negociar?

OC: Definitivamente, e é preciso realçar as especificidades daquilo que aconteceu. O Trump viria com tarifas, isso era bola cantada. Os anúncios iniciais de aumento de tarifas não surpreenderam tanto — exceto as tarifas sobre Canadá e México, por conta da interligação produtiva entre a indústria manufatureira dos EUA e dos vizinhos.

A dúvida ficou se era apenas meio de negociação para arrancar promessas do Canadá e México no que dizia respeito à migração e controle da entrada de drogas. Mas aí, no Dia da Libertação, em 2 de abril, o Trump veio com aquelas tarifas “recíprocas” – entre aspas, porque não havia reciprocidade. Naquele momento houve um baque. Não era uma coisa limitada a segmentos industriais considerados de segurança nacional. Foi uma avalanche protecionista brutal.

Antevendo o impacto disso sobre lucros e dividendos, os mercados e as bolsas desabam. Mas a coisa ficou ainda pior quando chegaram nos títulos do Tesouro americano. A gente viu uma coisa que só tinha visto em economias emergentes, com fuga de capital, [títulos com] juros de 10 anos subindo, enquanto a moeda do país se desvalorizava.

Ali sim, o susto bateu, e Trump suspende por 90 dias [as tarifas recíprocas entre os demais países] e diz que vai abrir negociações. O fato é que os mercados acalmaram, mas o resultado desse processo será tarifas mais elevadas nos Estados Unidos em relação ao resto do mundo.

IM: Donald Trump é famoso pelo seu estilo de ataques e recuos. Ele deve se dar por satisfeito com as condições negociadas até aqui ou podemos esperar mais emoções após esse prazo de 90 dias?

OC: O homem é imprevisível, mas eu acho que não, não deve ter uma repetição do que se passou ali em 2 de abril e nos dias seguintes, com a suspensão das tarifas [exceto para a China] em 7 de abril. Não creio que ele vá repetir mais uma dose desse movimento. Provavelmente, ele vai se dar por satisfeito e vai cantar vitória com a obtenção de tarifas mais altas para todo mundo do lado de fora.

Mas os efeitos dessas tarifas são desastrosos, ainda que não levem a economia americana ao colapso.

IM: Em termos práticos, Trump conseguirá levar para os EUA uma parcela significativa da produção industrial que migrou para o exterior, como ele tem anunciado?

OC: A substituição de importações por produção local deve ocorrer em alguns casos, mas os custos dessas novas produções domésticas serão mais altos do que hoje são as importações. Isso pode ter um efeito dentro do próprio Estados Unidos, e provocar um deslocamento de fatores de produção de atividades mais eficientes para atividades menos eficientes. Até porque você tem um baixo nível de desemprego, não tem mão de obra sobrando. Então, o aumento de produção nesses setores onde haja substituição de importações vai ocorrer em detrimento de outros setores.

Não dá para voltar a fita da história, nós não podemos ter mais em Detroit aquelas fábricas que existiam há 30, 40 anos atrás, porque a tecnologia mudou.

IM: Na sua avaliação, o comércio global deve mudar depois dessa experiência? Os países devem fazer mais triangulações para vender para os EUA, buscando driblar as tarifas e a origem dos produtos?

OC: A triangulação de exportação já vem ocorrendo desde a primeira guerra comercial do Trump com a China. Foi lá que a China começou a colocar as partes finais das cadeias de valor em outros países, como o México, o Vietnã e a Malásia, para que a exportação para os EUA saíssem desses lugares. [Mas agora] O aumento generalizado de tarifas americanas vai pegar todo mundo, vai afetar todo mundo. Esse mecanismo de translado tende a ser atacado também.

Um próximo passo poderá ser o de impor regras de origem, que são certificações de que aquele produto tem um mínimo de conteúdo local, que não é simplesmente produto chinês ou de outro país disfarçado como daquele país.

IM: É possível que a China coloque uma não-interferência na questão de Taiwan nesses acordos comerciais?

OC: Eu não creio. Essa guerra tarifária não é de interesse da China. Ela está sendo carregada nesse tipo de rivalidade. A China, se pudesse, mantinha manteria as coisas exatamente como estavam. Para ela, tudo estava indo muito bem. Em 30 anos, a China veio de lá de baixo, com elevação de renda per-capita monstruosa, três décadas com crescimento do PIB acima de 10% na média, escalada tecnológica em diversos setores. Então, eu creio que tentar envolver Taiwan nesse negócio vai tornar muito mais difícil o desejo de normalização.

IM: Para o Brasil qual é o impacto das tarifas para a economia?

OC: No que diz respeito à relação bilateral Estados Unidos e Brasil, há provavelmente margem para alguma negociação no que diz respeito às tarifas sobre aço. O Brasil pode tentar trocar tarifas de aço por cotas. E não há muito mais margem do que isso.

Já no terceiro vértice do triângulo, temos a China. No primeiro governo Trump, a nossa agricultura se beneficiou do movimento chinês de trocar importações agrícolas dos Estados Unidos por importações de Brasil e Argentina. Trump tentou reverter isso no acordo de 2020 com a China, mas a medida acabou não se efetivando.

Então, por enquanto, não temos clareza. Ao mesmo tempo, tudo vai depender do impacto das tarifas no crescimento da China, porque as exportações para a China, nosso principal parceiro comercial agora, vão depender também do dinamismo da economia chinesa. Essas variáveis estão em aberto, que a gente só vai ver com o passar do tempo.

Tem uma fantasia que eu escuto muito dos brasileiros de que a gente poderia pegar uma uma janela de oportunidade de exportar manufaturados para os Estados Unidos. Mas isso é uma fantasia. Primeiro, porque essa diferença deve cair, principalmente se as tarifas de Trump convergirem para um aumento de 10%. Segundo, porque a nossa capacidade de exportar manufaturados depende de uma lição de casa que a gente está longe de cumprir, que é investimento em infraestrutura e logística, em termos de fazer os negócios no Brasil se tornarem uma coisa menos custosa e complicada como é.

Então, sem essa lição de casa, não vai ter milagre de oportunidade.

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