O Chile costuma ser citado por especialistas como um exemplo a ser seguido quando o assunto é empreendedorismo e desburocratização. De acordo com o ranking de burocracia para empreender em 2025 da Florida International University, porém, não é bem assim. O país sul-americano aparece como o mais burocrático para quem quer empreender.
No geral, abrir uma empresa na América Latina continua sendo uma tarefa que exige paciência. Entre idas e vindas a cartórios, certidões e registros, o processo de formalizar um negócio ainda leva meses em boa parte dos países da região.
O estudo, conduzido pelo Adam Smith Center for Economic Freedom, avaliou 21 países, sendo 16 latino-americanos, e levou em conta o número de horas e o custo necessários para abrir e manter uma empresa de médio porte.
A métrica considera empresas de médio porte, geralmente entre 50 e 250 funcionários e faturamento anual de US$ 100 mil a US$ 3 milhões.
Segundo o levantamento, abrir um negócio no Chile exige cerca de 5.227 horas de trabalho administrativo — o equivalente a mais de dois anos em dias úteis. A média geral dos países analisados é de 1.850 horas.
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A situação é ainda mais desigual após a abertura. Enquanto a média global para manter uma empresa é de 1.577 horas por ano, os empreendedores chilenos gastam cerca de 5.860 horas — quase quatro vezes mais que a média calculada pelo estudo.
E a surpresa não termina no Chile, aparecendo como o país mais burocrático a América Latina para quem tenta empreender — o menos demorado talvez também seja uma surpresa.
Chile – iStock
Brasil: entre papéis e progresso
O Brasil aparece na ponta positiva da lista, com o menor tempo médio de abertura de empresas na América Latina. Por aqui, o processo leva cerca de 284 horas — pouco mais de um mês — e custa aproximadamente US$ 400 (R$ 2,16 mil na cotação atual).
Apesar do avanço, o desafio começa depois que o CNPJ sai do papel. Segundo o mesmo relatório, as empresas brasileiras gastam mais de mil horas por ano apenas para cumprir obrigações tributárias e trabalhistas — número menor que o de países como Chile e Argentina, mas ainda alto em comparação com os padrões internacionais.
Eficiência em todos os setores
A agilidade do Brasil se repete em diferentes segmentos da economia, de acordo com o levantamento:
Setor primário (pecuária): o país tem o menor tempo médio de abertura de empresas;
Setor secundário (construção civil): lidera o ranking, com 216 horas — o menor tempo entre todos os países avaliados;
Setor terciário (imobiliário): o Brasil também se destaca, liderando entre os latino-americanos, com 309 horas.
Reformas em andamento
Nos últimos anos, medidas de simplificação ajudaram a reduzir a burocracia para quem quer empreender no Brasil. A digitalização de processos, a unificação de cadastros e a Lei da Liberdade Econômica diminuíram a necessidade de autorizações prévias para atividades de baixo risco.
Essas iniciativas não resolveram a complexidade do sistema — especialmente na área tributária —, mas já encurtaram o caminho para quem deseja abrir um negócio.
Na prática, o empreendedor brasileiro ainda enfrenta uma maratona de formulários, mas está alguns passos à frente dos vizinhos latino-americanos.
O ranking completo do Índice de Burocracia 2025:
Posição
País
Horas de Trabalho Administrativo
1
Brasil
284
2
Rep. Dom.
551
3
México
675
4
Paraguai
720
5
El Salvador
790
6
Costa Rica
824
7
Uruguai
984
8
Honduras
1.360
9
Equador
1.493
10
Bolívia
2.060
11
Guatemala
2.283
12
Colômbia
2.475
13
Peru
3.332
14
Panamá
3.392
15
Argentina
4.496
16
Chile
5.227