A XP reduziu a aposta de alta na Selic para a próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central. O colegiado, que iniciou a reunião nesta terça-feira (6), divulga a decisão amanhã (7), depois do fechamento dos mercados.
Agora, os economistas da corretora esperam uma elevação de 0,50 ponto percentual, levando a Selic para 14,75%, acompanhando o consenso do mercado. A projeção anterior era de 0,75 ponto percentual.
A equipe econômica da XP afirma que a taxa de câmbio mais apreciada e os preços mais baixos do petróleo tendem a reduzir a inflação de curto prazo — o que levou à revisão da expectativa.
“Os membros do Copom vêm enfatizando que a incerteza global exige cautela adicional na condução da política monetária e […] também vêm destacando que o aumento da incerteza exige ‘flexibilidade’”, escreveram os economistas Caio Megale, Rodolfo Margato e Alexandre Maluf em relatório.
Na avaliação deles, o comunicado não terá uma sinalização sobre o que o Comitê pretende fazer na reunião seguinte, prevista para junho. Mas isso não significa o fim do ciclo de altas na Selic.
“Nenhuma sinalização, por definição, não significa que os juros ficarão parados no próximo mês. As portas ficarão abertas”, afirmaram os analistas.
Vale lembrar que na última reunião, o colegiado elevou a Selic em 1 ponto percentual, de 13,25% para 14,25% ao ano.
Motivos para uma alta menor na Selic agora
Os economistas da XP afirmaram que as medidas de estímulo ao crescimento econômico, anunciadas pelo governo após a decisão do Copom em março, contribuem para a expectativa de uma alta menor na Selic.
“Houve eventos desde a última reunião do Copom que podem manter a inflação sob pressão”, escreveram. Entre eles, o governo anunciou a liberação de saldos do FGTS para trabalhadores demitidos entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2025, que optaram pelo “saque-aniversário”, totalizando cerca de 12 bilhões de reais.
Recursos adicionais ao programa habitacional “Minha Casa Minha Vida”, no valor aproximado de R$ 30 bilhões; novas regras que ampliam o crédito consignado para trabalhadores do setor privado; e a isenção do Imposto de Renda para indivíduos que ganham até R$ 5 mil por mês também estiveram no pacote de medidas do governo.
“Essas medidas impulsionarão a demanda doméstica ao longo do horizonte relevante da política monetária. Isso pode exigir um aperto monetário adicional, além do aumento desta semana”, afirmaram os economistas da XP em relatório.
Além disso, os preços dos ativos financeiros têm apresentado elevada volatilidade nas últimas semanas. “Parece arriscado para o Copom assumir que o real permanecerá nos níveis atuais, ou mais apreciado, nas próximas semanas”, disseram em relatório.
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Comunicado do Copom
Os economistas também preveem mudanças no comunicado. Para eles, o BC deve afirmar que o cenário de elevada incerteza, particularmente no quadro global, demanda cautela extra na condução da política monetária. No documento anterior, o colegiado citou que o “cenário adverso, de elevada incerteza e defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso” antevia um ajuste de menor magnitude.
O comunicado também deve acrescentar a ideia de flexibilidade na condução dos juros. Os membros do Copom ainda podem reforçar a manutenção dos juros em “nível restritivo o bastante e tempo necessário para garantir a convergência da inflação para a meta”, sem qualquer tipo de orientação futura.
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Mais uma alta em junho
Na véspera da decisão, ainda não há consenso sobre a decisão do Copom em junho. A maioria dos participantes do mercado espera que a elevação nesta quarta-feira seja a última do atual ciclo de aperto monetário.
Já a XP discorda dessa visão. Os economistas avaliam que o fluxo de notícias “convencerá” o Copom de fazer um ajuste final na próxima reunião. Isso deve acontecer por quatro motivos:
os dados de atividade, particularmente os números do PIB do 1º trimestre, diminuirão a percepção de clara desaceleração econômica;
a inflação corrente deve permanecer em torno de 6% (em termos anualizados), sem sinais consistentes de alívio;
o viés fiscal e parafiscal do governo tende a se tornar mais expansionista à medida que as eleições se aproximam;
o real está mais propenso a se desvalorizar do que a se valorizar no futuro.
A equipe econômica projeta uma elevação final entre 0,25 e 0,50 ponto percentual na taxa Selic em junho. “Aguardaremos a sinalização do Copom esta semana antes de ajustar tal expectativa.”
Para a corretora, é possível prever alguma flexibilização a partir de meados do próximo ano, já que a política monetária atual está “consideravelmente” restritiva. “Mas isso dependerá da evolução do cenário global e da probabilidade de reformas fiscais domésticas relevantes após as eleições de 2026”, acrescentaram os economistas.