Desde que o presidente Donald Trump sobretaxou em 50% os produtos importados do Brasil, citando preocupações comerciais, mas listando justificativas políticas, foram feitos vários estudos e análises sobre o impacto que a medida poderia trazer ao país. Embora o cálculo não seja trivial, o banco digital Inter fez uma conta do tamanho do prejuízo e encontrou um dano geograficamente localizado, com respingos na geração de empregos em algumas regiões.
Leia também: Empresas pressionam Suprema Corte dos EUA contra poder de Trump para impor tarifasFonte: Inter
Segundo o estudo, assinado por André Valerio, economista sênior do Inter, e Gustavo Menezes, assistente de pesquisa macroeconômica do banco, as evidências preliminares apontam para um impacto substancial e significativo do tarifaço no padrão de contratações para agosto e setembro, resultando na destruição de 15 mil empregos nesse período.
O levantamento diz que 30% de todas as perdas empregatícias vieram da indústria de alimentação, “mais especificamente do refino de açúcar, atividade tipicamente aglutinada em São Paulo, estado que conforme nossas estimativas agregou pouco mais de 1/4 de todos os empregos industriais perdidos até setembro”.
Fonte: InterFonte: Inter
Os resultados também apontam para contratações abaixo do usual nos demais estados e setores, ressaltando-se a perda estimada de cerca de 4.500 empregos nos estados da região Sul, que contém diversas regiões dependentes em indústrias de bens de capital cuja produção é quase inteiramente exportada aos EUA.
Segundo lembram os autores, o Brasil foi o país mais afetado pela rodada de tarifas anunciada em julho, mas com eficácia a partir de agosto. “Mesmo com a isenção posterior de vários produtos na pauta, que levaram a alíquota efetiva da medida para cerca de 31%, é de se esperar que o impacto seja assimétrico, com enfoque na indústria”, diz o estudo.
Leia também: Preços de café em alta, taxa extra e estoques menores: os efeitos do tarifaço nos EUA
Os economistas destacam que, apesar de o Brasil também ser um exportador relevante de commodities agrícolas para os americanos, os bens industriais possuem mais dificuldade de adaptação nas cadeias comerciais por serem menos homogêneos, ao ponto de não contarem com preços padronizados no comércio internacional como é o caso do café, petróleo e minério.
“Utilizando informações detalhadas da balança comercial (…), percebemos que a medida já aparenta ter atingido as principais pautas de exportação aos EUA que são atreladas à bens de capital: aeronaves, motores e máquinas elétricas registraram contração acima de 30% em agosto e setembro frente ao mesmo bimestre do ano anterior”, listam os autores.
Fonte: Inter
Sobre a transmissão dos impactos comerciais na atividade econômica, o estudo colocou uma lupa nos dados regionais para identificar os efeitos de maneira mais clara. A conclusão é que, dentre as 131 regiões intermediárias – agrupamentos de municípios com características similares – que possuem exposição à exportação de bens manufaturados aos EUA, 60 apresentavam variação interanual positiva nessa métrica em julho.
“Dois meses depois, o contingente caiu para 28 enquanto a quantidade de regiões apresentando forte queda avançou para 63, o maior registro desde a greve dos caminhoneiros de 2018 que provocou contração aguda na produção industrial da época”, compara o levantamento.
Leia também: Brasil e EUA não chegam a acordo sobre tarifaço e terão nova rodada de reuniões
Os autores ressaltam que os impactos de uma quebra estrutural no comércio devem ser altamente localizados. “Analisando a razão entre exportações industriais e o PIB da indústria de transformação, encontramos ampla dispersão nos níveis de exposição comercial entre as regiões intermediárias, detalhes que são perdidos ao efetuar análises mais agregadas para compatibilização com pesquisas disponíveis somente a nível estadual, como é o caso da produção industrial mensal.”
Para chegar ao detalhe do impacto do tarifaço na geração de empregos, os técnicos do Inter cruzaram os dados de comércio exterior com os microdados do Caged – a métrica do Ministério do Trabalho para calcular o emprego formal, com carteira assinado — em um modelo estatístico que é capaz de estimar os impactos da dependência comercial aos EUA na geração local de vagas para a indústria de transformação.
Sobre as perdas de emprego na indústria de refino de açúcar em São Paulo, os autores do estudo dizem que boa parte deste resultado aparenta ser decorrência de uma frustração no salto sazonal das contratações de agosto, que ocorreu normalmente em setembro. “Resta assim saber como o setor reagirá nos próximos meses à queda de cerca de 80% nas exportações de açúcar do Brasil para os EUA que foi observada como início do tarifaço”, ponderam
Segundo os autores, esse estudo reforça a expectativa que se tinha quando as tarifas foram anunciadas. Devido à baixa abertura comercial em geral da economia brasileira e baixa dependência da economia americana como destino das exportações brasileiras, estimava-se que o impacto agregado da medida seria limitado. “De fato, o que vimos foi aumento das exportações, com outros destinos ganhando relevância, enquanto a atividade e o emprego mantiveram tendência recente, ainda robusta”, afirmam.
“Entretanto, o impacto foi heterogêneo e significativamente sentido pela indústria, como também era esperado. Com a abertura do diálogo entre os dois governos, esperamos que esses danos sejam limitados, mas não podemos descartar efeitos prolongados devido à inércia inerente às relações econômicas”, concluem.
The post Refino de açúcar em SP e bens de capital no Sul: tarifaço de Trump já afeta empregos appeared first on InfoMoney.