O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano nesta quarta-feira (5), no maior nível da taxa básica de juros desde meados de 2006. Essa foi a terceira manutenção consecutiva e em linha com o esperado pelo mercado.
A decisão do colegiado foi unânime. Na última atualização, com data de referência de ontem (4), o contrato de Opções de Copom da B3 apontava a chance de 97,60% de o Banco Central (BC) manter os juros inalterados.
No comunicado, os diretores afirmaram que o cenário internacional segue incerto, com destaque para a política econômica dos Estados Unidos. O colegiado também citou as negociações tarifárias entre Brasil e o país norte-americano.
No cenário doméstico, o Copom destacou que as expectativas seguem desancoradas, além de projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. E, por isso, a política monetária deve seguir em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.
Os diretores ainda reduziram as expectativas para a inflação. A projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2025 passou de 4,8% para 4,6%, ainda acima do teto da meta — de 4,5%.
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Internacional
No comunicado, o Copom reforçou o ambiente externo “ainda se mantém incerto” em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, com reflexos nas condições financeiras globais.
“Tal cenário exige particular cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica”, diz o comunicado.
Sobre a política tarifária do presidente norte-americano, Donald Trump, os diretores do BC afirmaram que seguem acompanhando os anúncios referentes à imposição de tarifas comerciais ao Brasil.
Economia brasileira
Em relação ao cenário doméstico, os diretores do Banco Central ressaltaram que o conjunto dos indicadores de atividade econômica tem mostrado uma trajetória de moderação no crescimento, enquanto o mercado de trabalho “ainda mostra dinamismo”.
O BC também reconheceu que a inflação tem dado sinais de desaceleração. “Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes apresentaram algum arrefecimento, mas mantiveram-se acima da meta para a inflação”, diz o Copom.
O colegiado ainda mencionou que as expectativas de inflação do mercado permanecem acima da meta do BC e das projeções da autarquia. “As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 4,5% e 4,2%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o segundo trimestre de 2027, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,3% no cenário de referência.”
O comunicado acrescenta que os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual.
Entre os riscos de alta destacam-se:
desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado;
maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e
conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
Já entre os riscos de baixa para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, os diretores do Copom consideram:
uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada, tendo impactos sobre o cenário de inflação;
uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza; e
uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários.
Para onde vai a Selic?
O Copom manteve a postura de cautela na condução da política monetária e afirmou que “a estratégia de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”.
“O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.”
O Comitê disse ainda que se manterá vigilante e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados.
Decisão unânime
Segundo o comunicado, os dirigentes do Banco Central entraram em consenso e a decisão foi novamente unânime.
Gabriel Galípolo (presidente), Ailton de Aquino, Diogo Guillen, Gilneu Vivan, Izabela Correa, Nilton Schneider, Paulo Picchetti, Renato Dias e Rodrigo Teixeira votaram pela alta de 0,50 ponto percentual.