Se você estava no grupo dos otimistas que apostavam em um corte de juros ainda este ano, melhor “tirar o cavalinho da chuva”. O Comitê de Política Monetária (Copom) seguiu o plano, manteve a taxa Selic estável em 15% ao ano e já avisou que o patamar vai continuar alto pelos próximos meses.
O comunicado do Banco Central destaca que os riscos para a inflação seguem mais elevados do que o usual e que, para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, “exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”.
Ou seja, o mercado já aguarda por mais uma manutenção da taxa básica de juros em 15% ao ano na reunião de dezembro.
A avaliação da autoridade monetária é de que o ambiente externo ainda se mantém incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos. Além disso, do lado doméstico, o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo, apesar da trajetória de moderação no crescimento da atividade econômica.
“O Comitê segue acompanhando os anúncios referentes à imposição de tarifas comerciais pelos EUA ao Brasil, e como os desenvolvimentos da política fiscal doméstica impactam a política monetária e os ativos financeiros, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho”, diz o comunicado.
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Segundo Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, a decisão do Copom foi totalmente dentro do esperado, mas o tom do comunicado surpreendeu e veio hawkish.
“Na verdade, ele seguiu a mesma linha do último comunicado, só que como nós tínhamos uma expectativa que ele já sinalizaria uma possível mudança de rota no futuro, ele não fez isso. Então, ele manteve o tom duro da ata quando todo mundo já estava imaginando uma sinalização um pouco mais tranquila”, afirma.
Marcos Moreira, sócio da Garten Capital, afirma que o mercado de trabalho mais apertado e a inflação em níveis com desencoragem que preocupa o cumprimento da meta para os próximos 18 meses contribuíram para essa postura do Banco Central de manter os juros nos níveis atuais e manter também esse discurso mais restritivo.
“Nós não esperamos corte de juros este ano, a nossa expectativa está mais para cortes no final do primeiro trimestre do ano que vem, então ali mais ou menos em março a gente espera cortes. O que fica aberto é qual que deve ser o pace, ou seja, o que deve vir o primeiro corte de 0,5% ou 0,75%”, diz.
Por outro lado, o que chamou também a atenção dos analistas foi um pequeno ajuste na comunicação: de que a inflação e as medidas subjacentes “apresentaram algum arrefecimento”.
Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, essa frase adicionada que trouxe um tom dovish para o comunicado
“Se o comunicado tivesse sido amplamente alterado, a frase poderia ser tratada como um mero reconhecimento conjuntura. Como foi praticamente uma alteração isolada, a frase passa uma mensagem de potencial esmorecimento da rigidez da política monetária”, aponta.