Uma eventual retaliação do Brasil à tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos (EUA) pode gerar duas fontes de inflação: desvalorização do câmbio e aumento dos preços de insumos e do consumo. O alerta é de Bruno Funchal, ex-secretário do Tesouro e CEO da Bradesco Asset Management.
A potencial escalada dos preços pode ainda afetar a política monetária e adiar os cortes na taxa básica de juros, afirma.
“Nossa estimativa de inflação é de 5%. Estamos vendo os núcleos melhorando, mas isso pode ter um retrocesso e piorar. Pode até ter efeito na política monetária. Não acredito que vai ter um aumento de juros por causa disso, mas talvez tenha que postergar um pouco a queda”, diz Funchal em entrevista ao Money Times.
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O economista afirma que, além de agravar o cenário econômico, uma retaliação poderia intensificar as tensões políticas. Vale destacar que, ao taxar o país, Donald Trump citou “a forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro” na carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A melhor resposta à tarifa comercial, de acordo com Funchal, é negociar com os EUA. “Tem que abrir os canais de comunicação e conversar”, diz.
O governo brasileiro poderia buscar uma acomodação negociada, a fim de reduzir ao menos a alíquota para setores nos quais o Brasil é um fornecedor importante — como carne, suco de laranja e café.
Funchal pondera que a medida suavizaria o impacto sobre o crescimento econômico, mantendo a desaceleração em níveis controlados.
O ponto ótimo de um eventual acordo, segundo ele, seria retornar à tarifa de 10% imposta em abril.
Impacto das tarifas
Funchal afirma que a tarifa de 50% tem impacto macroeconômico limitado, já que o Brasil é uma economia fechada. No entanto, alguns setores devem sentir um baque maior.
Enquanto produtos commoditizados, como petróleo, podem ser facilmente redirecionados para outros mercados, empresas de setores com produtos altamente especializados, como a Embraer (EMBR3), devem sofrer impactos mais severos, comparáveis até ao período da pandemia de Covid-19.
“Depende muito do quanto cada setor consegue substituir a exportação que fazia para os Estados Unidos e de como isso vai evoluir ao longo do tempo, como vai ser essa negociação”, completa o economista.
*A entrevista na íntegra com Bruno Funchal sai na próxima semana no canal do Money Times, no Youtube