Neste terceiro trimestre, o varejo brasileiro vive um paradoxo: o aumento da renda e do emprego estimula o consumo, mas os juros elevados e o endividamento crescente impõem freios à intenção de compra, especialmente de bens duráveis. A análise é do IBEVAR-FIA Business School, que cruzou projeções econométricas com dados sobre o comportamento digital do consumidor.
De acordo com a pesquisa, o número de pessoas ocupadas cresceu 2,5% em maio de 2025 na comparação anual, e a massa de rendimento real subiu 5,8%, superando a inflação acumulada de 5,27%. O crédito também se expandiu no mesmo período, em 5,96%, sinalizando maior liquidez para as famílias.
A combinação desses fatores sustenta a projeção de crescimento de 1,98% para o varejo ampliado no terceiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2024. Segmentos como vestuário (+9,01%), artigos pessoais e domésticos (+10,72%) e farmácias (+2,27%) puxam a alta, com os supermercados (+1,25%) mantendo estabilidade.
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Juros altos limitam bens financiados
Apesar do otimismo em algumas frentes, o consumo de bens duráveis segue pressionado pelo alto custo do crédito. A taxa de juros para pessoa física alcançou 58,16% ao ano, um aumento de 5,54 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Com prazos mais longos de financiamento (média de 39,6 meses) e inadimplência projetada em 6,21% para setembro, o cenário é de cautela.
Setores dependentes de financiamento como automóveis (-2,37%) e móveis e eletrodomésticos (-0,80%) registram retração. O setor de livros e papelaria projeta queda ainda maior, de 6,94%, possivelmente refletindo uma migração para o consumo digital.
Busca online revela desejos contidos
A segunda parte da pesquisa analisa o comportamento digital do consumidor e mostra uma realidade complementar. Setores como hotelaria (91,3 pontos) e cosméticos (90,2) lideram o interesse online, revelando desejo por lazer e pequenos luxos. Já o setor automotivo, embora com alta intenção de busca (89,3), não converte esse interesse em vendas, devido às condições desfavoráveis de financiamento.
Por outro lado, o baixo interesse digital em móveis e eletrodomésticos (30,4) acompanha a queda nas vendas, sugerindo que o desengajamento online pode antecipar desempenho ruim no varejo físico. O crescimento das buscas por casas de apostas (74,1) indica ainda uma nova destinação para a renda das famílias, competindo com categorias tradicionais do varejo.
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Consumo seletivo e consciente
A convergência entre as duas abordagens aponta para um consumidor mais cauteloso, que pesquisa muito antes de comprar e prioriza itens essenciais ou acessíveis. “A restrição creditícia continuará limitando compras de bens duráveis, enquanto a transformação digital favorecerá setores com forte presença online”, explica Claudio Felisoni, presidente do IBEVAR e professor da FIA Business School.
Segundo Felisoni, o crescimento projetado entre 1,5% e 2,5% para o varejo ampliado neste trimestre revela um mercado em transição. “O cenário final sugere um consumidor mais cauteloso e informado, que utiliza extensivamente canais digitais para pesquisa, mas toma decisões de compra criteriosas, priorizando necessidades sobre desejos.”
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